27 setembro 2005

o senhor Cunha


Maleitas antigas, levaram-me ao Hospital.
Maus-jeitos acumulados que mereciam um atendimento especial e rápido, pelo que recorri ao Cunha, para que o Senhor Doutor, Douto Professor e amigo de longa data, olhasse com prontidão as dores deste outro amigo, que até tem pouco tempo.
Abraços aqui e ali, De que te queixas, Como estão os miúdos, Já …eh! Como o tempo passa…Vamos lá a ver isso então…
Aperto aqui, aperto ali e, Gaita rapaz! É grave? Não! Mas preciso de uma radiografia! Mas para isso vais ter que te inscrever na consulta ( lá se foi o Cunha). Radiografia? Mas então não é preciso, estive aqui faz…sei lá uns quinze... não! Foi em Agosto, sim finais de Agosto nas urgências, porque não aguentava o raio das dores e tiraram um raio X... Tiraram? Não interessa! Sei lá como tiraram o raio da raio! Tiras outra, que eu quero ver...Vais é ter que ir para a marcação de consultas...Ó Graça leva aqui o Senhor Engenheiro para a marcação da consulta...Mas já fecharam senhor Professor, Ó senhora estou-lhe a dizer para levar o senhor engenheiro. ( haja Deus! Voltou o Cunha!). Venha daí.
Fui, tal pato segue a pata, mas de rabo encolhido tal cão, que isto de desautorizar a Dona Graça era coisa que indispunha a dita e o dito, professor, o Manel...o Cunha!
Hora e meia passada, lidas as páginas do jornal,refelctidos e apontados ditos para a campanha, bebidos dois cafés de máquina badalhoca, em copos de plástico... O seu cartão, por favor! Tirei, paciente o cartão milagroso, informatizado, que todo o cidadão deve ter para utilizar o Serviço de Saúde, e seguro do acto, estendo-o com o suor a escorrer, que estamos em contenção e ventoinha é do mais belo em arte estética e estática, fica bem! Fica, sim senhor, que há falta de cabides para tanto casaco quando o calor aperta...
Não é esse! Não é este? Mas eu sempre usei este! Mas este é o magnético, quero o verde, o de cartão! O cartão...de cartão? Mas o de cartão deitei-o fora quando recebi este, magnetizado...tenho usado sempre este. Mas não aqui senhor...senhor Francisco! Vai ter que fazer uma inscrição nova! Dirija-se aquele guiché por favor e depois venha novamente aqui! ( Meu Deus , Meu Cunha , salva-me, rezei, amaldiçoei, manguitei em espírito, sei lá em que “ei” mais pensei … ).
Foi coisa rápida, meia hora que é coisa que custa pouco a passar quando os nervos tomam conta dos cabelos...
Agora espere que o chamem...Mas o Senhor Doutor disse para eu ir tirar uma radiografia, e estou a ler, ali que diz “ Só fazer a marcação depois de ter a radiografia
Ah! Podia ter dito, Ó GRAÇA! GRAÇA! TRAZ A REQUISIÇÂO! QUAL? A DO FRANCISCO! (Ena , como isto já vai pensei, e calei que isto de ser levado pelo Cunha é coisa de respeito...Manguitei vezes muitas até doer o braço...ah como sabe bem manguitar em espírito, pró Cunha e para o Raio que os Partam!)
Suba aquela escada e tire o Raio X, Leve isto por favor!
Subi, confesso que desajeitado, porque andar com o rabo entre as pernas só porque se pediu ó Cunha para dar um jeito, é coisa que faz suar e ter outras maleitas que provavelmente vão precisar de consulta médica, que Psiquiátrico é médico também!
GUICHÊ À ESQUERDA! Muito Obrigado Senhora Dona Graça, muito Obrigado.
Vazio! Esperei, por falta de TLIM! TLIM! Tão em voga de filmes outros, menos cómicos.
Aparece senhora forte de maçã pendurada na boca, recém dentada, a espreitar por uma porta, ao fundo do corredor, numa quase penumbra.
O que deseja? É para uma radiografia...Ah, vai ter que esperar um pouco...comecei agora a maçã...é só um minuto...
Vinte depois, que no entretanto apareceu colega outra, com novidades da novela das nove, e 1 euro e vinte depois ( afinal o Manel tinha razão, que diabo, por um euro e vinte vale a pena tirar mais uns retratitos...Ah, ganda Manel, que sabes disto!).
Pegou no papel e hesitou, paralisou... mas o que é que este gajo ( O doutor, o Professor, o Manel...o Cunha), escreveu aqui... Ó Teresa vê lá se entendes isto... ( mais cinco minutos, e...) Penso que é rotação! Foi com rotação que o senhor Doutor pediu a rádio, senhor...senhor Francisco? Com rotação minha senhora? Não sei Minha senhora, vai demorar muito minha senhora? Espere um pouco se faz favor...( e revira os olhos de maçada por este inoportuno cidadão que a fez apressar a degustação do pecado à pressa e sem prazer)
Agarrou no telefone, Ó Graça isto é com rotação ou sem rotação? Sim eu espero...( cinco minutos depois, Ó Teresa, leva este senhor... é com rotação!
Foi rápido, afinal aquilo da rotação era coisa simples, só tinha que tirar uma radiografia com a mão para dentro e outra com ela, para fora ( São Manguito me salve, que eu não sei andar nisto, meu Deus! Orei em prece desesperada, num quase Socorro!)
Pois é Chico! Pois é ! Isto está óptimo, é coisa pouca, toma isto, um ao almoço, outro ao jantar e muito gelo! Muito gelo! Na cabeça presumo! És sempre o mesmo Chico, sempre a brincar. Aparece rapaz, andas com ar abatido! Aparece lá em casa…

25 setembro 2005

terrorismos...


A natureza anda revoltada, tumultuosa, terrorista…
Indignou-se com um dos seus e empertigou-se, falou do alto, para o umbigo dos senhores da terra.
Aguarda-se que os ditos senhores, não se revoltem e se ponham a atirar bombas contra este novo terrorista-fantasma…
Seria bom que se auto flagelassem todos, e de caneta em punho e vontade autentica, assinassem e cumprissem o protocolo de Quioto…

21 setembro 2005

o meu direito à indignação, escreve-se assim...


Não tenho interesse em saber se a senhora Doutora é culpada ou inocente. Não a conheço, não me é íntima, não me pediu licença para entrar em casa, mas entra pela televisão, pelos jornais e rádios.
Não sei se fugiu, ou se foi dar uma volta. Não me interessa de todo!
O que me incomodou foi o facto de por duas vezes ter assistido em directo a fúria da multidão ( mas como sou generoso nas palavras…deve ser por estar em campanha, ou por ter algum pudor e respeito pelo trigo, e por não gostar de confusões e o joio até cheira mal à distancia):uma deu-se com uma figura publica que foi ao Feudo da senhora, e levou umas murraças do dito POVO, outra, presenciei-a hoje onde o protagonista foi um anónimo cidadão que teve o azar opinar contra a corrente…( esse sim teve que fugir, que o Estado não anda direito, anda de cócoras e de calças na mão)…
Pensava eu viver numa Republica, mas enganei-me, os Feudos existem, e aí estão, a usar a ingenuidade e a crença do Povo que nunca ordenou mas que afinal, parece, foi sempre ordenhado…
A senhora pode voltar para terras outras, pelo menos assim não me entra a torto e a direito pela casa dentro, armada em justiceira do Povo e das causas perdidas.
Perdido, anda o País que assiste impávido à esperteza saloia ( que me indultem os meus conterrâneos de terras chamadas saloias, gente honrada de amanha da terra, e criadores de hortaliças tenras, queijinhos frescos e coisas outras, boas de ver e de degustar) de meia dúzia de papalvos empertigados, que usam e abusam da democracia e dos democratas que tem complexo de fazer cumprir a lei, agrilhoados na cobardia da inércia…

Incomoda-me ver elementos da Forças Armadas do meu País discutir na praça pública o que sempre se discutiu com orgulho e respeito nas casernas. Também neste caso não vou julgar razões, mas ponho-me a pensar se um dia, as Forças Armadas, (desculpem , elementos das Forças Armadas), se virarem para o comando e dizerem, “Não meu Coronel, não vou dar tiros em defesa da Pátria, diz o meu médico que faz mal à saúde…”
Será difícil perceber que o País atravessa todo o tipo de crises, e que devem ser as suas instituições a dar o exemplo e o sacrifício?
Às vezes, só às vezes ponho-me estupidamente a pensar se o 25 de Abril de 74 se fez porque os senhores capitães nunca mais progrediam na carreira…( eu não devia escrever isto por respeito, sei que passou muito tempo, que os homens de hoje são outros, mas deviam ser esses outros os primeiros a respeitar as instituições que representam, porque elas representam o País) .

Incomoda-me ver meia dúzia de palhaços vestidos de pseudo-militares a fingir que treinam meia dúzia de pseudo-figuras-publicas, todos palhaços que fingem que são gente num país do faz de conta...
Porque o que conta é estar na televisão, neste triste país, que continua a fingir que se perdeu num dia de nevoeiro…